Exigência do diploma para jornalistas ainda divide opiniões em Uberaba e demais cidades do Triângulo Mineiro
terça-feira, 2 de outubro de 2012A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apoia uma pesquisa que está sendo desenvolvida para aferição do número e perfil dos jornalistas brasileiros. O balanço deve ser concluído em meados de 2013, mas os primeiros dados mostram que mais de 115 mil registros de jornalistas foram emitidos entre 1930 e 2010 e que existem, atualmente, 316 faculdades de Jornalismo no país. Enquanto este perfil é traçado, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 33, que reestabelece a obrigatoriedade do curso superior de Jornalismo para o exercício da profissão, tramita no Congresso Nacional e deve ser votada até o fim do ano. Mesmo com a decisão de queda do diploma feita há três anos pelo Superior Tribunal Federal (STF), as universidades que oferecem o curso na cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, não sofreram diminuição na procura. Mas em Uberaba a situação é diferente.
O curso da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é um dos mais recentes da região. De acordo com a coordenadora Adriana Omena, desde que o curso foi criado, em 2009, a média de inscrições se manteve a mesma. São cerca de 400 inscritos ao ano, o que dá em torno de 10 candidatos por vaga. “Hoje nós já temos quatro turmas completas, somando 150 alunos. No começo alguns ficaram bem apreensivos e a coordenação trabalhou no sentido de esclarecer que, embora a queda da obrigatoriedade tenha sido uma perda para a categoria, as boas universidades não tinham com o que preocupar”, contou.
No município mineiro também está um dos cursos de Comunicação Social mais antigos da região e pelo menos 30 matrículas são feitas todo semestre. Criado em 1989, o curso é oferecido por uma instituição da rede privada e já está na 37ª turma de Jornalismo. Para o gestor do curso de Jornalismo, Paulo Henrique de Souza, o curso mantém sua regularidade independente da polêmica do diploma. “No início a procura era maior, por ser novidade, mas mesmo assim ainda há uma regularidade. O que ocorre é que o ingresso de meio de semestre é menor do que no início do ano. No semestre passado, por exemplo, formaram-se oito e neste serão 17 alunos. Então, depende de cada semestre, mas é essa a média semestral”, explicou.
Ainda conforme o gestor, na época da derrubada do diploma houve um clima apreensivo entre os alunos da faculdade, mas com o trabalho de conscientização que foi feito, esse sentimento foi amenizado. “Os próprios alunos entenderam que, na verdade, a qualificação para o mercado é mais importante do que propriamente ter um diploma na mão. O aluno precisa, na verdade, estar imbuído das habilidades e competências que o mercado profissional exige”, esclareceu Paulo Henrique.
Questão também divide estudantes
A estudante Carolina Tomaz, de 22 anos, cursa o oitavo período da faculdade oferecida pela UFU e é completamente à favor do diploma. Engajada na discussão, ela participa de no mínimo dois congressos por ano e defende a opinião dela com clareza. “Ele ajuda a legitimar a atuação do profissional, pois é uma espécie de prova à sociedade que o cidadão estudou e se especializou para realizar o trabalho jornalístico. Acho que as pessoas deturpam o conceito de liberdade de expressão, ponto principal da queda do diploma”, disse.
Discordando um pouco da colega de mesmo período, Vítor Carvalho Ferolla, de 21 anos, é à favor da formação dos jornalistas, mas não defende a obrigatoriedade dela. “Na época achei até positivo. Em vários países desenvolvidos a não obrigatoriedade existe há anos e creio que o jornalista com diploma pode ter um cargo melhor em relação ao sem diploma”, comentou o universitário.
A futura jornalista Ariane Baldini Bocamino, de 24 anos, está no primeiro ano de uma faculdade particular em Uberlândia e já é militante da causa. Para a estudante, a aprovação da PEC do Diploma é essencial no aspecto de valorização da profissão. “Sem a necessidade do diploma o reconhecimento do profissional cai. Por isso sou à favor, principalmente pelo fato de que, como qualquer outra profissão, o jornalismo tem necessidade de leitura, debate, contatos profissionais, estágio, laboratórios entre outras questões práticas que é função da universidade”, defendeu Ariane.
Uberaba
Em Uberaba, uma das universidades que embora seja responsável pela formação de muitos profissionais residentes na região do Triângulo Mineiro há 45 anos, tem sofrido impacto com a decisão do STF sobre a questão do diploma.
Segundo a coordenadora do curso de comunicação social, Celi Camargo, o curso de jornalismo sempre sofreu picos sazonais, com épocas de grandes demandas e outras de pequenas, porém, após a cassação do diploma, a queda foi sentida. “Em 2004, por exemplo, nós tivemos o ingresso de 54 alunos por causa de alguns incentivos promovidos pela faculdade. Já a crise financeira de 2008, teve um abalo quase que homeopático na vida de todo brasileiro e a educação também sentiu isso, em todos os níveis. O curso de Jornalismo, especificamente, sofreu além da crise, o abalo sísmico devido à cassação do diploma, que diretamente surtiu na cabeça das pessoas o engano de acreditar que não ter diploma capacita a ingressar no mercado de trabalho. A partir da cassação, nós não oferecemos mais vestibular no meio do ano para o curso de jornalismo, porque a demanda é baixa”, explicou.
Cassação não foi empecilho para estudantes
A estudante Mariana Alves está no 6º período e nunca pensou em não fazer o curso por causa do fim do diploma. “É uma profissão muito incrível, que não dá para qualquer um fazer sem estudos. Eu sabia que se não estudasse, não estaria apta para trabalhar no mercado. Eu pensei em fazer o que eu gostava, independente de ter diploma ou não e sei que quando me formar não vou arrepender disso”, contou.
A também estudante do 6º período, Izabel Durynek, trabalha na área de comunicação há 12 anos. “A derrubada do diploma nunca foi um impedimento, pois eu já trabalhava antes, então não ir mudar. Eu já trabalhei na produção de TV, apresentei programa de rádio e hoje sou produtora executiva em rádio e mesmo já trabalhando na área, sentia que as coisas ficavam muito mal feitas e precisava de técnica. Mesmo que eu ainda não tenha formado, já percebi que mudou totalmente depois que eu entrei na faculdade, pois me sinto mais segura e construí uma base sólida”, explicou Izabel.
Fonte: G1